Em 1896, Guerra Junqueiro descreveu-nos em a “Pátria” desta forma impiedosa e sarcástica. A nós, os Portugueses! Porque Guerra Junqueiro foi uma extraordinária personalidade da transição do século XIX para o século XX e a sua obra literária é uma referência da cultura portuguesa, propomos-lhe uma leitura atenta e crítica.
Afinal, o “assunto” é sobre nós, os Portugueses, e o nosso “carácter”:
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos no governo sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”
Guerra Junqueiro, “Pátria”, 1896.
1 comentário:
Realmente, este país é uma procissão. Onde os pastores, estruturalmente, são sempre os mesmos. Na mentalidade o desvio é mínimo. É uma foda, para nós, mais esclarecidos.
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