09 setembro, 2008

Voltando ao tempo das conversas desbragadas....



A Direcção Municipal de Planeamento e Ordenamento da CMBraga, defende adopção de normas claras. Braga precisa de colocar construção na ordem.

Aproveitar a revisão do Plano Director Municipal para colocar na ordem a construção no município de Braga.

É uma das principais recomendações dos técnicos de urbanismo da autarquia bracarense, que denunciam que as regras actuais permitem situações caricatas como a construção de edifícios praticamente colados aos da frente.
In: DM, 08-09-2008

Opções camarárias agravaram ocorrência de cheias no Este

As opções urbanísticas tomadas pela Câmara Municipal de Braga para as áreas envolventes do rio Este agravaram a possibilidade de ocorrência de cheias. Esta é a principal conclusão a reter de uma análise realizada pelos próprios técnicos da Direcção Municipal de Planeamento e Ordenamento da autarquia bracarense.

Os autores da análise vão mais longe e sublinham que a substituição do leito natural do rio por muros e “condutas” de betão foi uma outra decisão que agudizou o risco das cheias, que provocam «graves consequências materiais». As considerações sobre as principais razões que originam as recorrentes cheias de Inverno no rio Este são assumidas num relatório sobre o Plano Director Municipal a que o Diário do Minho teve acesso.
In: DM, 06-09-2008

É espantoso, não é? Este seria o discurso normal e evidente, de um presidente camarário recém-eleito….há 32 anos?

Vale a pena relembrar a primeira sessão das Conversas desbragadas (feitas à revelia do regime, que saudades nos deixaram), realizada na pastelaria Ferreira Capa, a 26 de Outubro de 2001, subordinada ao tema: Expansão Urbana e Qualidade de Vida. Encontra-se Publicada em livro e talvez tenha sido útil para o estudo em questão.

Alguns excertos:
Actualmente, a gestão das cidades, embora seja da competência de políticos, não pode deixar de ser acompanhado com estudos, com uma forte componente de investigação…..

Se quisermos perguntar aos nossos políticos qual é a ideia de cidade, o que é que eles estão a propor, ninguém sabe. Não há ideia nenhuma porque não há plano. Podem sempre dizer que há um PDM - um PDM não é nada, um PDM é aquilo que viram, crescimento em estrela, junto às vias automóveis, e é resultado de alguns interesses. Se começarmos a ver o critério para a localização dos equipamentos na zona da encosta do Bom Jesus, em vez de se procurar qual é a lógica, deve-se ver quem eram os proprietários, que é mais fácil. [...]

Vivemos numa cidade cada vez pior e o projecto que a autarquia tem para a cidade, que ouvi numa entrevista do engenheiro Mesquita Machado na TSF, é transformá-la numa periferia de forças, que segundo ele com as auto-estradas nós vamos estar mais perto do centro do Porto do que do centro de Braga ou seja, é continuar a crescer e continuar a ver a cidade entregue ao mercado, entregue ao mercado, que pelos vistos também não se responsabiliza pela prestação de bons serviços aos clientes, que somos nós todos.

A propósito do que se falou há bocado sobre Braga ser uma cidade vocacionada para o automóvel, eu suponho que nem para o automóvel é, porque nas zonas residenciais periféricas, assiste-se a prédios com 10, 12 andares, em que os acessos com ruas estreitas, com duas faixas de rodagem que não suportam sequer o número de automóveis que toda a gente tem. E a questão dos acessos pedonais: é praticamente impossível nesta cidade utilizar um trajecto casa-trabalho que seja seguro, por exemplo, para andar com carrinhos de bebé. É impossível ir dessas zonas a pé para o centro, é impossível, só mesmo de carro.


É evidente que temos assistido nos últimos anos a uma coisa de construção desenfreada, de tal forma que, se os romanos regressassem a Braga, chamar-lhe-iam Bracara Angústia (daí a origem deste blogue).

Hoje, temos um rio Este, completamente impermeabilizado, todo cimentado, não há infiltração lateral de água. A par disso, destruíram todo aquele ecossistema que havia nas margens... Ora bem, a água vai para onde? Eu gostaria de saber que riscos existem de no futuro haver lá inundações e até mesmo encharcamentos, possibilidades de assentamento diferencial por parte dos prédios, porque de facto, quando há uma cheia, a água transborda para as margens, infiltra-se e depois vai regressando lentamente ao leito.[...]…


Obs: Todos os bracarenses devem estar bem atentos à evolução da situação laboral dos autores do referido estudo.

10 comentários:

Anibal Duarte Corrécio disse...

Também para nós é fantástico...existir publicamente essa informação e, dado o contexto, não ter sido abafada ou desviada para caminhos mais íntimos que não os dos cidadãos...Um abraço...Maldito !

dumemartinho disse...

Também a rapaziada arquiologa da obra dos CTT, parece que por ter denunciado em público os achados, lhes acabaram com os recibos verdes

Anónimo disse...

Estou farto de viver em Braga

Anónimo disse...

Em Braga não se faz o suficiente para dinamizar e recuperar o Centro Histórico (CH) e esse facto é origem mais remota da degradação dos edifícios. E todas as câmaras municipais possuem ferramentas capazes de incentivar os proprietários a recuperar. Assim como terão outras que os façam pensar se o melhor não será vender. Pelo que se aceitarmos que parte da responsabilidade do acidente está na degradação do CH, então a CMB é politicamente responsável.
Mas tratando-se de um problema de desrespeito pelas regras de segurança a CMB poderá ser responsabilizada? Parece-me que não e na CMB já perceberam.
Nos próximos tempos serão muitas as entidades preocupadas em alegar que tudo fizeram e cumpriram. O dono da obra e o construtor serão certamente os mais visados. E como em termos de normas Portugal é exemplar serão os primeiros a ser responsabilizados. Só que na verdade a responsabilidade maior é de quem permite este caldo cultural de impunidade. Uma administração que se preocupa em montar uma estrutura normativa do mais exigente que há, mas não possui capacidade de assegurar o seu cumprimento. Pobres das vítimas porque morreram.
Interessante é tentar perceber o silêncio de Ricardo Rio. Até porque terá estado presente. A explicação poderá ser o dono da obra?

BRACARA MAMAMIA disse...

Ora que as coisas na CMB funcionam à base do €, desculpem dos €€€€ já todos (não sabemos) mas imaginamos e digo isto com base no seguinte acontecimento:
em conversa com um colaborador de uma empresa de instal. de elevadores contou-me que na urbanização com vista para a variante mesmo abaixo da antiga Fab. Pachancho, nos 3 ou 4 prédios recentemente construídos eram obrigatórios 2 elevadores por cada prédio, o que foi cumprido por 2 dos 3 empreiteiros, porque 1 muito conhecido na praça teve a lic€nça de habitabilidade sem grandes problemas, (ao contrário dos outros 2) com 1 elevador em cada um dos 2 prédios a cargo dele.
E o mesmo empreiteiro numa obra para os lados do Porto, esteve "à rasca" para conseguir a licença de habitabilidade, uma vez que está habituado às facilidad€s, cá do BURGO.
Por isso que eu digo:
SERÁ QUE VALE A PENA PENSAR NISTO?!

Zé de Braga disse...

Caro Anónimo:
Concordo em parte com o seu comentário, mas eu iria mais longe.
Não me ficaria pela responsabilização política da CMB, concordo é com a responsabilização cível. A responsabilização política apenas serve para os políticos terem mais um pouco de tempo de antena e fazerem o seu show-off à boa maneira de Paulo Portas e Francisco louçã, com discursos empolgados, que ficam nos ouvidos, mas de nada servem, infelizmente.
Mas será que a CMB não tem mecanismos legais para embargar obras que não cumpram as normas de segurança? Será que esta e outras obras idênticas foram ficalizadas pela CMB?
Quanto ao silêncio do Dr Ricardo Rio, como do Dr. Jorge Matos, bem como do Dr. João Delgado, acho bastante sensata esta atitude, uma vez que a política não se faz apenas na imprensa e certamente que estes três senhores, na hora e locais apropriados saberão proferir as suas declarações e agir de acordo com os princípios que os regem.
Falar para o povo ouvir e ficar tudo na mesma, isso já foi chão que deu uvas e apenas agrada a quem está no poder e aos mais incautos que andam distraídos..
Acho sensata, uma vez que não sou apologista política de "temas avulso", que apenas serve para falar, falar, falar e a culpa morreu solteira. Não sou apologista da política de caça ao tema.
Fazer política séria, é apresentar um plano de desenvolvimento integrado para a cidade e para o conselho, rodear-se de pessoa altamente qualificadas nas mais diversas áreas do conhecimento e não de pessoas mais obedientes que inteligentes, de pessoas que aprenderam com os erros que só se cometem uma só vez e não com os erros que se cometem sistematicamente e ao fim de 32 anos, descobrirem que afinal estava tudo errado.
Cumprimentos

Zé de Braga disse...

Caro(a) Bracara mamamia....
SERÁ QUE VALE A PENA PENSAR NISTO?!
Claro que sim, eu apenas consigo dizer:
Como isto anda....mamamia????

Mas isto está assim devido em parte, à nossa passividade. Ou não temos tempo para o exercício da democracia participativa, ou temos medo de não conserguir ou pôr em causa o emprego do filho, do primo, da tia, do sogro, do irmão,...etc. etc.

Assim, caímos nas garras de uma espécie de máfia em que todos têm "rabo de palha" e que só serve a quem se encontra no topo da pirâmide e depois ainda mandam divulgar o slogan: deixem estar lá estes, porque já não roubam mais..
Abraço Angustiado

Zé de Braga disse...

Amigo Martinho:
Como pode ver, a seriedade tem os seus custos.
Antigamente tinhamos a pide, mas sabíamos que ela existia. Agora, acabou-se a pide mas ficaram os bufos.
Cumprimentos

Anibal Duarte Corrécio disse...

Caros !...sobre o alegado silêncio de Ricardo Rio...amanhã ouça-mo-lo no Campo da Vinha...

Anónimo disse...

Bem me pareceu. O Zé de Braga não é um Zé qualquer.
Reconheço que me trocou as voltas.