10 abril, 2009

Quem tem medo dos homens do lápis azul?

Estava eu, meio pensativo nos tempos que se avizinham – laborais, eleitorais e nacionais – enquanto ouvia Manuel Freire, e deparei-me com isto



“OUVINDO BEETHOVEN"
Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d'aquém e além mundo.
Venham ordens decretos e vinganças,
desça em nós o juiz até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte
relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
que a prosa do registo o verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas.

Letra: José Saramago
Interpretação: Manuel Freire

2 comentários:

Anibal Duarte Corrécio disse...

O lápis azul parece que deu o seu lugar ao lápis...rosa. Felizmente que os correios da manhã não utilizam lápis...(Pareceu no poema que em vez de proeza é prosa. Confira Zé de Braga) Um abraço...Maldito !

Zé de Braga disse...

Caro Anibal:
Obrigado pela observação. O Saramago e o Manel Freire já me perdoaram.
Abraço