10 maio, 2008

A angustia das estátuas em quarentena

Muitos cidadãos após deixarem este mundo, continuam presentes na memória do seu povo. Normalmente, são pessoas ilustres, naturais e/ou residentes duma dada localidade, que ficaram conhecidas pela sua obra em vida, seja ela de índole literária, religiosa, desportista, artística, científica, humanista, etc, etc...

Por isso, com o passar dos anos, é natural que os seus conterrâneos queiram reconhecer de alguma forma esse esforço e homenagear tais pessoas, sendo uma das melhores maneiras, o simples erigir de um busto ou até de uma estátua em local público.

No entanto, a colocação de estátuas na cidade de Braga, obedece a regras um tanto ao quanto sui generis, regras essas em que as estátuas dos ilustres bracarenses passam invariavelmente por um período de quarenta, "escondidas" durante alguns anos em armazém, até aguardarem pelo momento oportuno de saírem à rua. Ou seja, têm que passar por uma espécie de purgatório, até que o povo esqueça.

Exemplos não faltam.
1 - A da estátua do Comendador Santos da Cunha, que após alguns anos bem guardada, lá foi colocada na rotunda de Maximinos, com o beneplácito da CMB.

2 - A estátua do arcebispo D. João Peculiar (que regala a vista aos turistas e à rapaziada cá do burgo), atribuída ao escultor Raul Xavier, que morreu em 1964. A ser verdade quanto à sua autoria, na pior das hipóteses, esta estátua esteve em armazém, pelo menos 40 anos.

3 - Presentemente, os bracarenses estão a braços com mais um berbicacho, que se prende com a polémica estátua do polémico Cónego Melo, há 15 anos guardada num armazém, ao que consta, propriedade do município bracarense.

Adorado por uns e odiado por outros, o Cónego Melo faz parte da história da cidade de Braga para o bem e para o mal. Quer queiramos quer não, foi uma figura bastante polémica, seja pelo seu envolvimento na luta da Igreja contra a tentativa do PCP implantar o comunismo em Portugal (Verão quente de 1975), seja ao nível dos cargos que desempenhou no SCB, na igreja bracarense, seja pelo tráfico de influências, etc. etc. Até foi condecorado pelo então Presidente da República o Dr. Mário Soares, pelos serviços prestados à Democracia, e um dos poucos detentores da medalha de ouro da cidade de Braga.

Após a sua morte, ainda o corpo não tinha arrefecido, já as movimentações em torno da nova tentativa de colocar a sua estátua na praça pública faziam-se sentir, pois em vivo o povo não autorizou.

Perante uma personalidade tão complexa como polémica, a colocação da referida estátua não deixará certamente, de constituir um pomo de discórdia entre os bracarenses. A história não deve e nem pode ser escrita pelos seus protagonistas. Isto para bem da verdade e do rigor. Deixem a história seguir o seu rumo, pois o tempo é um bom conselheiro.

No entanto, outros bracarenses ilustres como D. Diogo de Sousa, André Soares e Carlos Amarante, pelo legado que nos deixaram, esses sim, seriam os justos merecedores de uma estátua na cidade de Braga.

Nota:
O Diário do Minho tem em curso um inquérito, em que cada indivíduo vota quantas vezes quiser e, é notório que existem pessoas que passam horas a brincar às votações, pelo que o inquérito certamente não traduzirá a vontade do povo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não esquecendo que o dito conego Melo, nunca se livrou da fama, de ter mandado ASSASSINAR, um padre catolico, Maximino Barbosa de Sousa de seu nome, e candidato pela UDP ás eleições de 1976.

Talvez por isso e por pudor a Igreja Catolica nunca o passou do posto de Conego.

Quem tem as mãos sujas de sangue, mais tarde ou mais cedo, é desmascarado, e a historia não perdoa....

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

O ultimo parágrafo acho que é contundente. Esses sim são mercedores duma estátua.

Cumprimentos

Sérgio Costa disse...

O ultimo parágrafo acho que é contundente. Esses sim são mercedores duma estátua.

Cumprimentos