28 setembro, 2010

Soneto quase inédito - e tão actual


Soneto quase inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO Soneto escrito em 1969. Tão actual em 1969, como hoje... E depois ainda dizem que a tradição já não é o que era!!!

2 comentários:

Anibal Duarte Corrécio disse...

A teoria do Eterno Retorno poderá explicar estes fenómenos ? E a República ? A natureza dos acontecimentos do passado parece voltar a repetir-se no presente...Dá que pensar se não estaremos a participar num 'filme', que outros já viveram anteriormente...

Zé de Braga disse...

E eu que não acredito em teorias de reincarnação. mas os ciclos, tal como o próprio nome indica, repetem-se. Mas acho que no caso português, estamos perante um ciclo vicioso e viciado.