Com relação às recentes notícias da pretensão de elevação de Celeirós a Vila, e do apoio da Câmara Municipal de Braga, venho expor a minha visão sobre esta matéria, procurando ser breve e expondo de forma sintetizada o conhecimento que pode ser retirado dos diversos dados e estudos do INE e de outras entidades de referência (CCDR-N, AMVC).
É necessário compreender o que deve ser “Braga cidade contínua”, “Braga na região”, e “Braga no panorama nacional/transfronteiriço”, com o intuito de procurar o melhor para o município, e não uma vantagem pontual para uma freguesia, que se torna num entrave na estratégia de desenvolvimento e afirmação do município.
Conhecendo e compreendendo:
- o dispersivo sistema urbano que existe, em especial no Norte Litoral de Portugal;
- o erro na concepção das principais cidades de Portugal, Lisboa e Porto, com núcleos citadinos pequenos e com arredores demasiado extensos para as cidades em questão, os quais se desenvolveram como nódulos descontínuos, em volta de pólos secundários (municípios, cidades e vilas), retirando coesão, eficiência, competitividade, poder de afirmação e crescimento às respectivas Áreas Metropolitanas (AM);
-a falta de centralidades alternativas às duas principais AM de Portugal;
-a polarização política excessiva do Norte em torno do Porto, com falta de voz política das regiões Minho e Trás-os-Montes;
-a necessidade de afirmar Braga como claramente o terceiro pólo urbano de Portugal.
Não é compreensível verificar vantagem em classificar freguesias que já fazem parte da cidade estatística de Braga (INE-2001), Gualtar, Dume, Real, Frossos, Lomar, Celeirós, Aveleda, ou outras que se encontram em zonas de expansão da área urbana, Palmeira, Adaúfe, Merelim (S.Paio e S.Pedro), Panoias, etc… como vilas só porque possuem infra-estruturas estratégicas da cidade de Braga, como a UM, Pólos Industriais, MARN, Serviços, Escolas, etc…
“Braga cidade contínua”, deve procurar prolongar a sua expansão, e pautar pela afirmação da diferença no Norte Litoral, procurando afirmar-se desta forma, a médio/longo prazo, como a maior cidade do Norte Litoral, ao invés do restante Norte Litoral, onde proliferam as vilas e cidades “intra-municipais” como em Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Matosinhos, Gondomar, Valongo, Gaia, etc… , que retiram coesão e projecção ao município. Neste contexto a própria AMP, onde o município do Porto se apresenta demasiado pequeno e onde proliferam as cidades satélites que estão em descontinuidade com a malha urbana do Porto, fazem com que esta perca claramente poder de afirmação.
No contexto de “Braga cidade contínua”, deve procurar-se portanto a criação de Avenidas e Arruamentos de cariz citadino que prolonguem a “noção de cidade contínua”, além das freguesias de Sequeira, Celeirós, Aveleda, Lomar, Arcos, e não o inverso. Os melhores exemplos de integração das freguesias no conceito de “cidade contínua” são a Variante do Fojo e a Variante da Encosta, que levaram à transferência da zona de expansão das mesmas, para as imediações e ramificações destas estruturas rodoviárias, em vez de se constituírem como nódulos com crescimento em torno do centro “histórico” da freguesia, passaram então a constituir um crescimento em continuidade com a cidade de Braga, resultando numa evidente vantagem para o crescimento da cidade e para a mobilidade dentro do município, permitindo a Braga ser uma das cidades com maior crescimento do país, e torná-la já em 2001 na maior cidade fora da AMP e AML.
No plano regional, Braga deve procurar a criação urgente da AM de Braga, com base nos municípios de Braga, Vila Verde e Amares, que é sustentada pelos estudos de mobilidade que demonstram que mais de 20% da população activa e estudantil de Amares e Vila Verde se desloca para Braga (com base nos dados do INE de 2001), factor esse que na AMP apenas é cumprido pelos municípios de Gaia, Matosinhos, Maia, Gondomar e Valongo, sendo que a AMP já conseguiu uma expansão artificial muito além desses 6 municípios centrais, com evidentes vantagens políticas.
Com base nesta AM Braga, deve procurar-se uma expansão e integração de Barcelos e Povoa de Lanhoso, e a consolidação da área urbana contínua com Amares e Vila Verde, onde está projectada a Variante do Cávado (transversal em relação à cidade), e onde deviam também ser criadas duas Avenidas novas no sentido Sul-Norte, que à imagem da Variante do Fojo e da Encosta, criassem um crescimento contínuo com a cidade, e transferissem as novas zonas a urbanizar para as imediações dessas novas vias, e não em torno de arruamentos centralizados nas freguesias, e de acordo com as pressões imobiliárias, que só fazem perder a mobilidade global no Município, e o conceito de cidade contínua.
Além disto deve procurar-se juntamente com os membros do quadrilátero criar a AM Minho, ou Conurbação Minho (uma vez que se trata de uma AM policentrica), que devido às rivalidades existentes, não tem avançado, pelo que urge estudar a criação política da AM centralizada em Braga, que já existe na realidade, tal como acima foi referido.
Neste plano de afirmação regional e analisando o Norte Litoral, tal como consta no PROT-N, Braga tem que procurar ser a cidade referência para a sub-região Minho, e nesse sentido Braga cidade deve procurar penetrar no Vale do Ave afirmando-se como a principal centralidade, isto passa pelo desenvolvimento de novas ligações rodoviárias e ferroviárias estratégicas a Sul da cidade, onde estão as ligações às Auto-Estradas Regionais/Nacionais, e onde se destaca claramente a necessidade de criação de uma nova ligação de Braga a Joane (e à VIM), colocando assim toda a cidade mais próxima desta área do Vale do Ave, que comporta uma população superior a 100.000 habitantes e que compreende vilas de grande dimensão, como Joane, Ronfe, zona de Riba de Ave, Vila das Aves, Lordelo, Moreira de Conegos, etc…
A região de Celeirós, Aveleda, Lomar, entra claramente na zona de influência destas novas rodovias. Seria de grande importância criar uma centralidade e zona de expansão da cidade nesta zona Sul, onde se deveriam implantar serviços, comercio e investimentos de projecção regional e transfronteiriça, como por exemplo IKEA, El Corte Inglês, sedes de empresas, serviços públicos, etc… A intenção é criar uma centralidade junto aos nós das AEs que além de ser referência para Braga e AM Braga (acima descrita), seja também referência para o Vale do Ave, restante Minho, Trás-os-Montes, e ainda para a AMP e Espanha, além da criação da plataforma logística Braga/Barcelos (que consta da revisão do PDM). Como tal, torna-se necessária requalificação e melhoria da infra-estrutura rodoviária nesta zona, que passa pela criação de uma Avenida/Variante de sentido Norte-Sul, e de uma Avenida/Variante de sentido Este-Oeste.
As novas vias e as zonas de influência estão exemplificadas em esboço nas imagens seguintes.
http://s245.photobucket.com/albums/gg64/karlussantus/?action=view¤t=BragaZonaSul.jpg
http://s245.photobucket.com/albums/gg64/karlussantus/?action=view¤t=ZonasdeInfluenciadeBraga.jpg
Esta infra-estrutura é claramente muito mais importante do que a “Variante Nordeste”, a ligar a Variante do Cávado à Variante do Fojo e de Gualtar, que está contemplada na revisão do PDM. Permite a consolidação da cidade contínua além de Ferreiros, integrando a zona da Aveleda-Celeirós-Lomar, e projectando a cidade para a afirmação regional.
Resumindo e concluindo, devia ser realizado um plano de desenvolvimento da zona sudoeste (Sequeira, Aveleda, Celeirós, Lomar, Arcos) que claramente deve passar pela integração na “cidade contínua de Braga”, através do desenvolvimento de novas rodovias, e da melhoria do eixo da N101 desde Ferreiros até Celeirós (MARN), que permitam a criação de uma centralidade que possua os serviços e investimentos privados de projecção regional e transfronteiriça, aproveitando a concentração estratégica dos principais nós de ligação às Auto-Estradas e da “circular” de Braga, e nunca pela criação de núcleos de crescimento em descontinuidade com a cidade de Braga. Além disso em todo o município as novas zonas a urbanizar no novo PDM, devem ser transferidas para as vias e novas vias principais de cariz urbano que irradiem da cidade, e não para inúmeros pequenos arruamentos que irradiam dos centros das freguesias, como infelizmente se tem verificado.